sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Coletivos Audiovisuais na Paraiba

A cada edição do CineEsquemaNovo, mais e mais produções de realizadores da região Nordeste ganham destaque nas mostras competitivas do festival – notadamente, trabalhos oriundos do Ceará, Pernambuco e Paraíba. Uma característica comum a estes trabalhos é o fato de serem quase sempre produzidos por coletivos que se reúnem para realizar filmes autorais de orçamento enxuto, em que os custos e tarefas são divididos entre todos os integrantes.

Um deles é a cooperativa Filmes a Granel, da Paraíba, da qual fazem parte 20 cineastas. Entre eles, Ana Bárbara Ramos, Ely Marques e Arthur Lins, velhos conhecidos do CEN. Em 2009, o filme Sweet Karolynne, de Ana Bárbara, ganhou o prêmio de Melhor Curta-metragem escolhido pelo Júri de Premiação do Festival, e ficou em segundo lugar pelo voto popular na Mostra de Curtas.

À época da produção do curta, o coletivo Filmes a Granel ainda não tinha ganhado corpo, mas Ana Bárbara e outros realizadores paraibanos já participavam do CEN com outro coletivo, o Las Luzineides Coletivo Audivisual Psicotrônico. Isso porque, também em 2009, dois outros curtas de integrantes do grupo estiveram na Mostra Competitiva do Festival, Um Detalhe Luzi (Arthur Lins) e O plano do cachorro (Arthur Lins e Ely Marques).


Em 2007, o média-metragem Um Fazedor de Filmes, dos mesmos diretores, ganhou os prêmios de Melhor Personagem Real (Júri de Premiação) e Melhor Curta ou Média (Júri Popular). O filme tem como personagem o cineasta Ivanildo, que produz filmes em VHS na pequena cidade de Soledade, no interior da Paraíba. A maior parte dos filmes de Ivanildo, como Nove marmanjos e o rabo da cabrita e Pescaria Sangrenta, se baseia em histórias da cultura regional e tem como locações, figurinos e elementos de cena as casas, estabelecimentos comerciais e objetos pessoais de moradores da cidade – que voluntariamente ajudam Ivanildo e inclusive atuam em seus filmes.

Coincidência ou não, tanto Sweet Karolynne quanto Um Fazedor de Filmes se centram em personagens fortes, daqueles que não se esquece – ou atores sociais, para definir de forma mais precisa o “personagem” no cinema documentário que expande suas delimitações de gênero.

Sweet Karolynne:

Ana Bárbara conheceu Karolynne no bar do pai da garota, em 2003. Karolynne surgiu da cozinha em sua bicicleta, trazendo no guidão a galinha Capitu (que precedeu o galo Jarbas, personagem do curta), com quem não parava de conversar. A cena impressionou Ana Bárbara, que puxou conversa com a menina. “Pude perceber em poucos minutos que estava diante da pessoa mais delicada, gentil e sensata daquele lugar. Com sua imaginação transbordante, ela podia criar o lugar que quisesse, dar vida a seres inanimados, interagir com os bichos, viver em harmonia com tudo a sua volta. Tudo que a gente, gente crescida, não conseguia fazer”, conta a diretora.

Algum tempo depois, Ana Bárbara voltou ao bar e conversou com Karolynne e com a família dela sobre a possibilidade de fazer um filme com a garota. Os pais concordaram, mesmo diante da dificuldade de perceber o que havia de cinematográfico ali. A filmagem foi realizada em três etapas diferentes, ainda em 2003, com uma câmera Hi-8 e um microfone dinâmico, mas o primeiro corte do filme só apareceu seis anos depois, porque Ana Bárbara se envolveu com outras atividades junto à Associação Brasileira de Documentaristas da Paraíba e engavetou o material bruto.

Depois de cinco cortes e ainda alguma insatisfação pessoal com o resultado, Ana Bárbara finalizou o filme em 2009, quando se convenceu “de que o ‘mais’ havia acontecido antes da câmera ser ligada pela primeira vez, na escolha dessa criança como contradição do mundo”.

O curta Sweet Karolynne foi lançado no bar do pai da menina em 2009, no dia 16 de agosto, data onde se comemora o Elvis Party – o dia da morte de Elvis. Ana Bárbara conta que Edmundo (o cavaleiro solitário, cover de Elvis e pai de Karolynne) se apresentou emocionado e chamou a garota para subir ao palco e cantar com ele a música Sweet Karolynne, em homenagem ao filme.

No momento, Ana Bárbara trabalha num curta chamado “Oferenda”, que ela define como uma mistura de documentário etnográfico e filme-ensaio que tem como tema o ato de fazer oferendas a orixás (neste caso específico, Iemanjá). O curta, realizado pela Filmes a Granel, custou exatos R$ 1.780 e vai ser lançado no final de janeiro em João Pessoa. A previsão é de que outros quatro filmes produzidos por cineastas integrantes da cooperativa sejam lançados em 2011.

Leia aqui uma matéria sobre a Filmes a Granel publicada no Jornal da Paraíba.

Gabriela R. Almeida

Extraído de: http://cineesquemanovo.wordpress.com/


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